Publiquei essa coluna tempos atrás no meu site.
Resolvi republicá-la aqui.
Acho que ando meio incomodado (pelo menos mais
do que o costume) com a ignorância coletiva e a mediocridade assumida.
Falando nisso. Você sabe o que é ser medíocre?
De acordo com o dicionário Michaelis online é:
medíocre
adj (lat mediocre) 1 Médio ou
mediano. 2 Meão. 3 Que está entre bom e mau. 4 Que
está entre pequeno e grande. 5Ordinário, sofrível, vulgar. sm 1 Aquele
que tem pouco talento, pouco espírito, pouco merecimento. 2 Aquilo
que tem pouco valor.
Se falássemos em termos de temperatura da água seria o morno.
Apocalipse de João Capítulo 3, versículos 15 a 17.
“Assim, porque és morno, e não
és frio nem quente, vomitar-te-ei da minha boca.
Como
dizes: Rico sou, e estou enriquecido, e de nada tenho falta; e não sabes que és
um desgraçado, e miserável, e pobre, e cego, e nu; "
A seguir o texto que escrevi a tempos atrás:
"Já faz tempo que tentam classificar as gerações com letras; Geração BB (Baby
Boomers), Geração X, Geração Y, etc.
Mas o que tem chamado a minha atenção nos últimos anos é a Geração F, F de
Frouxos. Ok, isso não é uma classificação “oficial”, é a minha forma de nomear
um grupo de pessoas que infelizmente parece estar cada vez maior. Leciono
música a mais de 19 anos e tenho percebido uma mudança significativa no perfil
das pessoas interessadas em aprender música. Se hoje temos uma grande
facilidade em comprar instrumentos, pedais e amplificadores e acesso a
toneladas de informação áudio-visual parece que quanto maior é essa oferta
menos pessoas querem realmente aprender a tocar um instrumento musical. A grande
maioria quer parecer que toca. Afinal parecer é mais fácil do que ser.
Quando comecei a me interessar por música quem conhecia uma escala pentatônica
era o melhor guitarrista do bairro (no meu caso da cidade). Eu e meus amigos
fazíamos “excursão” até a casa de quem tinha conseguido comprar um pedal.
Qualquer Xerox de uma tabela de acordes ou digitação de escala valia ouro.
Revistas especializadas? Só fui ter acesso no final da década de 80. Tok Pra
Quem Toka nº3 com o Dr. Sin na capa.
É, sou praticamente um dinossauro. Mas para não fugir do assunto que me motivou
a escrever esse texto vou explicar melhor o que chamo de geração F.
Há muitos anos atrás ouvi uma declaração do Mariozinho Rocha (Diretor Musical
da Globo) que era mais ou menos essa: “O computador é uma excelente ferramenta
musical mas ele é muito perigoso, pois ele pode fazer com que você pense que
sabe algo que na realidade você não sabe”.
Uau! Toda vez que me lembro disso fico pensando no quanto realmente eu sei
tocar (isso inclui timbre, sonoridade, dinâmica, rítmica, e mais um monte de
coisas que eu acredito que tenha que ter e ser para poder tocar de verdade).
O Band in a Box e outros softwares de acompanhamento e gravação são uma ótima
ferramenta de estudo, composição, prática e ensino do instrumento.
Pedaleiras com os presets dos meus guitarristas preferidos também.
Porém se tudo isso for apenas um bem de consumo e não uma ferramenta para
construir habilidade e conhecimento acaba mais atrapalhando do que ajudando.
Gostaria de ter começado a aprender a tocar com as facilidades que estão
disponíveis atualmente, mas não sei se eu teria aprendido o que sei se tudo já
viesse pronto, mastigado, genérico e enlatado como hoje.
Música também é uma indústria e como tal depende do consumo para sobreviver e
essa indústria tem como objetivo “engarrafar” e vender o que as pessoas
desejam.
Afinal, admita que você morre de vontade de colocar um par de EMG’s na sua
guitarra para conseguir aqueles harmônicos do Zakk Wylde ou de comprar aquela
pedaleira que simula 40 amplificadores diferentes e mais de 100 pedais para
você ter o timbre modelado digitalmente de um verdadeiro amplificador valvulado
com um belo Tube Screamer TS-808 empurrando o ganho até as alturas.
Não sou um saudosista e nem um purista radical e xiita do som. Deus abençoe a
modelação digital e toda a tecnologia que torna a nossa vida de guitarristas
mais fácil e com timbres melhores.
O ponto é que conheço e ouço muita gente que tem um belo equipamento mas não
afina a porra do Bend, tem um vibrato de cabra asmática, acha que equalizador
gráfico é para ficar fazendo desenho ao invés de cortar e adicionar as frequências necessárias para melhorar o timbre e que não sabe silenciar as
cordas que não estão sendo tocadas para evitar os harmônicos indesejáveis que
ficam transformando o som do cara em buzina.
Mas é que comprar equipamento é fácil, nada que em 15 vezes no cartão de
crédito não se resolva, mas afinar o Bend machuca o dedo, faz bolha e até
sangra. Montar o próprio timbre dá trabalho, cansa, enche o saco (seu, da sua
família, vizinhos, companheiros de banda e etc.)
Um amigo meu, professor universitário, tem uma explicação para isso: Ele diz
que se a pessoa conseguir realizar o sonho dela vai ter que passar a vivê-lo,
pois deixa de ser sonho, vira realidade.
Sonhar é a coisa mais fácil do mundo, mas viver um sonho dá trabalho, cansa,
machuca corpo e mente e traz frustração e exige perseverança até que ele se
realize. Muitas vezes é mais fácil se boicotar, pois afinal, se for muito
difícil a pessoa pode usar a desculpa de que não conseguiu por causa da
dificuldade.
E aí? Você vai começar a se esforçar para tocar melhor para poder viver seu
sonho ou vai se esconder atrás daquele novo equipamento fantástico que vai,
finalmente, te dar o som que você sempre quis?"